quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Orientações para a prática do Aikido

Olá a todos, estou inaugurando a postagem de artigos aqui no blog. Para iniciar, gostaria de transcrever neste espaço textos que li recentemente no site do Instituto Takemussu. Grifarei nos textos as passagens que julgo mais importantes e que me chamaram atenção, ao final, postarei um comentário resumido sobre eles.

Aikijutsu real e o Aikido Ideal
Por Nev Sagiba

A metodologia de combate de aiki é buscar finalização rápida. Os atacantes quando encontram o nague vão sentir a sua base em kime, a resolução será conclusiva e rápida. (grifo meu)

Os iniciantes que chegam para praticar o chamado atualmente : Aikido moderno, é possível que deixem de aprender partes muito importantes das técnicas como um todo. E mais ainda podem perder a própria essência Aikido, que são os movimentos da natureza e as combinações das forças do universo, reunidos de forma criativa para o propósito da sobrevivência em momentos de perigo sob ataque de predadores. Quando este processo natural é propagado sem o correto entendimento dos mesmos ele acabado sendo passado de geração para geração em um estado de cegueira, ocultando mesmo o que se vê diante dos olhos. A essência da prática do Aikido assim fica "perdida”, contudo, ela lá está secretamente preservada dentro uma dança frívola, esperando por alguém com olhos para ver, para notá-la e reavivá-la novamente.

O processo de falsear as técnicas para o aprendizado deve deixar de ser parte do estudo dentro de cerca de seis meses de treinamento sério. Quando não é, e as pessoas ficam repetindo as coreografias para o resto da vida, o valor prático de Aikido fica perdido e assim também qualquer mérito verdadeiro e espiritual que possa ter tido. Assim como ninguém elogia um arquitetoconstrutor cujos edifícios tombam por causa de falta de bases. Esta forma coreográrica, não pode ser considerada prática, nem espiritual. (grifo meu)

Kihon: as técnicas base, são o passo essencial para um movimento útil e espontâneo. Não se pode compor a movimentação livre e eficiente quando não se domina a base. Isso é entendido em todas as atividades, em qualquer campo profissional. Mas é preciso se ter bem em conta que Soden ou Kihon, as técnicas base, são o ABC e o Do-Ré-Mi. Ninguém deve se iludir quanto a isto. Falatório tendencioso, só seria aceitável se quem o discursa fosse capaz de entrar no tatami contra um verdadeiro lutador, e que tenha coragem de apostar no bom resultado que argumenta ser capaz de realizar.Se isso acontecesse evidentemente que até as suas conversas mais ininteligíveis sobre tengu ou luzes no céu receberiam atenção e respeito, o que não é o caso. Em uma sociedade consideravelmente segura é muito fácil dizer “eu pratico essa arte marcial chamada Aikido, mas por favor não me ataque, pois ela não serve como uma ferramenta de defesa. Eu a pratico por motivos espirituais”.


Tentando ser gentil e usando uma palavra menos contudente, pensar-se assim é no mínimo uma loucura. Na realidade é muito pior. Qual é a definição de “espiritual”? Bons sentimentos? Uma ducha morna, uma xícara de café ou “coçadinha onde está coçando” são agradáveis, mas será que essas ações são “espirituais” ou são simplesmente estranhas maneiras de viver uma existência alienada e não aceitar os fatos da realidade? (Não falo sobre a a coceirinha, a ducha ou o café, e sim a recusa de aceitar a realidade).

Existe no discurso destas pessoas que não mostram eficiência marcial ao praticar o Aikido uma realidade, uma definição autêntica , para a palavra “espiritual” ou estariam simplesmente sofismando para de encobrir a ambigüidade de quem nada sabem de valoroso?

Em qualquer coisa que requer uma certa habilidade ou um serviço ao próximo, um mínimo padrão de excelência e credibilidade devem estar presentes. O Aikido não é exceção (grifo meu).

O recitar de frases mal compreendidas também não demonstra “espiritualidade”. Qualquer um pode citar passagens religiosas e logo depois assassinar e causar uma guerra em nome de um deus. Isso já aconteceu, e não é “espiritual”, é na verdade um ato de canibalismo. É uma ação que faz parte dos medos paranóicos da doença mental de quem acredita que o combate é o único modo de conseguir as coisas. Seja em um esporte ou em um ato violento, a vontade de tomar as coisas dos outros a força, continua a ser parte de uma doença enraizada profundamente na psique, uma manifestação de um defeito evolutivo e da espiritualidade incompleta da qual precisamos nos curar para que nossa espécie possa progredir para o próximo estágio de evolução. Se isso não acontecer nós entraremos em extinção; confundir as nossas metáforas não vai nos salvar, nem nos fará com que “deus” algum tome conhecimento de nossa existência.

Por que então recomendo lidar com o conflito, e finalizar rapidamenteos os mesmos? Não parece que estou me contradizendo? A responda é : “ Nem um pouco” . Brigas prolongadas, sejam elas verbais como as de um relacionamento doente, ou as feitas com armas de destruição numa relação doentia entre nações, é uma ferida que não se cura. É uma ferida da alma, que eventualmente gangrena e que no fim destrói seu portador. Como o Fundador de Aikido deixou mais que abundantemente claro, “Nossa missão é promover uma paz dinâmica, protegendo, nutrindo e cuidando de todas as formas de vida”. E, baseado nisso, qualquer ataque verdadeiro deve ser defendido de forma correta e isso deve ser realizado rapidamente, com uma breve e clara identificação, precisão, justiça, cuidado e com o máximo possível de compaixão e ao mesmo tempo de forma tão implacável quanto necessário. Termine com o ataque rapidamente. Na batalha, a defesa lenta não é como em um esporte e é vista sim como uma doença. Não deve ser considerada sem importância, e a harmonia deve ser restaurada o mais rápido possível (grifo meu). Se nós não temos tal habilidade, individualmente ou como uma humanidade, está na hora de acharmos um modo para adquiri-la. Depois disso, o restabelecimento e a manutenção da integridade para todos os envolvidos deve ser a meta seguinte.
Até que chegue o momento em que estaremos prontos resolver os conflitos desta forma , nós não devemos ousar chamar a nós mesmos "humanos" ou "espirituais." Porque com tecnologia nós cometemos os mesmos crimes selvagens dos tempos primitivos e ainda covardamente á distância como, ou então fechamos os olhos e enviamos outros para fazer o serviço, e no fundo nos mostramos que não somos nem um pouco diferentes de uma tribo canibal. Nós precisamos trabalhar em nos mesmos . Há muito a fazer, um grande desafio de trabalhar para alcançar nossa própria grandeza de entendimento perdida, bem como a habilidade para expressá-la corretamente. Interferir nos negócios de outros ou permitir interferência nunca dá bons resultados. A interferência é a essência de criminalidade e toda a jurisprudência confia no princípio de mitigar isto como base para as leis justas. Se nos sentimos confortáveis com este fato ou não, é irrelevante. O Universo não existe para alterar um átomo para suprir nossos caprichos. Nós devemos nos adaptar ou desapareceremos para sempre como os dinossauros.

Então quando Aikijutsu se torna Aikido? Quando o paradigma de manter e restabelecer a harmonia é completamente fortalecido, a violência se torna extremamente rara, se não impossível de ser iniciada, porque sabendo os resultados, ela se torna também indesejável. Isto não é possível sob o paradigma de reações demoradas e ineficientes, que geralmente nunca chegam a um fim até que todos os envolvidos estejam mortos, o que levam todos a se esquecerem de questões mais importantes. A verdadeira economia de harmonia é onde todos vencem exceto aqueles que escolheram ser perdedores por iniciarem um ataque. Nesse caso, o karma se torna instantâneo quando essa energia mal intencionada retorna para o atacante como resultado de uma integridade bem centrada e hábil de quem se protege. Isto é nem não alcançado pelo ataque (nem mesmo em nome da "defesa"), nem "defendendo" no sentido convencional da palavra (normalmente de forma estúpida e com maior brutalidade), mas sim pelo uso econômico da energia do ataque para restabelecer a harmonia em ação. Sim, esta habilidade é rara, mas só é raro porque não é comumente utilizada como paradigma predominantemente escolhido. E isto, talvez, seja porque requer que se encare a dor da mudança para se desenvolver a verdadeira habilidade, o que é uma proposta não muito atraente para quem é complacente e mentalmente preguiçoso. Mas isto pode ser mudado. A tempo, de um jeito ou de outro, isto terá que ser aprendido, refinado e aplicado a todas as camadas da infra-estrutura humana, se nós, como espécie, queremos continuar a existir. Quando isso acontecer, quando o paradigma do verdadeiro Aikido se manifestar em grande escala, nós teremos evoluído e assim teremos começado no caminho da verdade humana. Até lá nós continuaremos a lutar contra nós mesmos, com outros, com o real, com o imaginário e com o próprio universo, porque todas as oportunidades de crescicmento que um desafio nos traz, parecerão meros ataques da adversidade e seremos incapazes usá-las de forma útil. A atitude no Aikido é aprender a navegar decisivamente e de forma construtiva apesar das tempestades e mudanças, não somente em dias claros. E lidar com agressões freqüentemente inesperadas e reais, não aumentando o problema, ou fugindo, mas de modo a restabelecer e apresentar a cura de forma imediata. O mundo pode ser um lugar melhor, mais seguro, mas isto ou não virá como uma revelação divina infligida em nós de "cima", nem de quaisquer ideologias forçadas. Na verdade, depende de cada um de nós fazer a escolha pessoal para despertar aquela imensa porção de nosso próprio potencial que ainda está adormecida que no fundo é a base do “Takemussu Aiki” proposto pelo Fundador do Aikido.

Enquanto isso, pode-se trabalhar melhor o que é ideal, polindo-se a habilidade verdadeira e a capacidade de otimizar decisões para trazer respostas para o dia a dia. Isto é alcançado pela prática, e ao se encarar a vida real como nós a conhecemos como a melhor forma de meditação. Assim, para a busca do Aikido “ideal”, a mera imitação não ajudará. Primeiro, como alguns dizem, nós temos que praticar o "estilo duro" antes que o "estilo suave" possa se tornar eficiente, e não o contrário. Em outras palavras, a prática deve pelo menos se assemelhar ao que seria eficiente em uma situação real. Assim nós podemos extrair os ensinamentos secretos do Aikido que podem nos conduzir a níveis mais refina dos de prática e compreensão (grifo meu).

Nev Sagiba

Desafios do aprendizado
Por Nilce Mitsuko Kubo

Tese para exame de Nidan
CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE AIKIDO-BRAZIL AIKIKAI
Por Nilce Mitsuko Kubo

Desafios do aprendizado

Por diversas vezes o professor Tamotsu disse em suas aulas, o aprendizado inicia-se na faixa preta, enquanto o aluno esta na fase de “kyu” é apenas uma etapa de preparação para então assimilar gradativamente os ensinamentos do Aikido. Sensei Wagner também mencionou em outras ocasiões que decorar a coreografia das técnicas, uma pessoa poderia memorizá-las e reproduzi-las, mas seria meramente a coreografia. À medida que iniciamos o aprendizado de Aikido, vamos percebendo que necessitamos ajustar as formas ao nosso modo de ser, além de, superar dificuldades, como diz um dos lemas do aikido: “A prática do aikido tem por princípio o auto-conhecimento”. Esta é a principal barreira a superar dentro dos treinos, não é aquele companheiro que tem uma força descomunal e você não consegue executar com ele a técnica corretamente. Mas sim você não ver o uke como um problema a ser enfrentado e sim tentar encontrar uma forma de unir sua energia com a do uke (grifo meu). Isto é o que tentamos buscar nos treinos. Porém à medida que se prosseguimos nos treinamentos, constato que estas experiências são únicas e cada um descobre como o Aikido vai fazer parte de si mesmo. Como pode uma arte tão maravilhosa que possibilita desde uma criança até as pessoas com mais experiência na vida possam praticar e, daí obter tantos benefícios que superam em muito as dificuldades para alcançá-las?
Ao pensar em escrever esta tese, fiz uma reflexão de meu curto período de aprendizado. As diversas fases que passei, dificuldades que superei e nos períodos mais críticos que foram os treinos que antecederam o exame para shodan e este, pude ver como o aikido proporcionou um crescimento pessoal quanto a auto confiança e conseqüente melhora da auto estima. Também pude ver como a família que tenho dentro do dojo é unida, pois por ocasião do falecimento de minha mãe no ano passado, a solidariedade e o conforto de todos ajudaram muito a superar a dor desta perda. Sempre com a intenção de orientar a melhor forma de assimilar as técnicas, meus professores e meus sempais esforçaram muito para transmitir isto. Cabe a mim retribuir toda esta dedicação com muito treino e mostrar da melhor forma que posso o que tenho absorvido nos treinamentos.

Muito obrigada Sensei Wagner por acreditar em mim antes de eu mesma acreditar... Gostaria de agradecer meus professores Sensei Tamotsu e Sensei Osmar, sempai Fred, sempai Rodrigo, sempai Ilídio pela persistência e paciência. Ao meu filho Kenji e a Laís pela dedicação neste período de preparação para este exame. A todos do Shugyo Dojo e seus familiares pelo apoio incondicional. Aos amigos aikidoistas muito obrigado presença!
Domo arigatô gozaimashita.

Fudoshin e Zanshin: Elementos Psicológicos do Budo
por Brett Denison

Tradução - Jaqueline Sá Freire (Instituto Takemussu - Hikari Dojo – Rio de Janeiro)
Este artigo foi publicado a edição do verão de 2002 da SMAA Newsletter.
[apos a revisão de um artigo que tinha escrito antes, ("O que significa uma faixa preta?"),um de meus colegas mais antigos da SMAA a quem eu respeito muito me apresentou diversas questões difíceis e provocantes. O artigo a seguir é minha tentativa de responder a essas questões, e possivelmente trazer alguns esclarecimentos a outras dúvidas.] O simples treinamento do corpo através de arremessos e imobilizações repetitivas também será capaz de treinar a mente para se manter imóvel sob pressão? O fato de simplesmente praticar exercícios físicos difíceis poderá desenvolver nosso caráter? O que separa o treinamento do budo do treinamento atlético sério, e o que o diferencia de um simples esporte?
Na superfície, estas parecem ser questões muito simples, mas na verdade não são. A resposta à primeira questão é "Sim," e "Não”. O treinamento físico duro é necessário para o desenvolvimento de um estado mental apropriado no sentido psicológico e espiritual, MAS este treinamento físico severo requer que seja estruturado e encarado com a atitude correta, com intensidade, e objetivos tanto para o tori ("quem faz a técnica”) quanto para o uke ("quem recebe a técnica"). A atitude e a intensidade precisam conter a "integridade do combate", real. Os ataques devem ser fortes e ter uma intenção focalizada. Se o tori não desvia o ataque suficientemente, ele ou ela deve sentir o erro recebendo o golpe (grifo meu).

O Uke não deve cooperar excessivamente com o tori (nem o uke deve resistir em excesso... pelo menos não em todas as situações). O Uke precisa que o tori aplique ou execute técnicas de maneira eficiente, fazendo com que o uke caia. O Uke não deve antecipar uma técnica e se jogar (e isso pode ser perigoso se o uke antecipar uma técnica errada). Outros métodos de treinar a mente e desenvolver a integridade do combate são (grifo meu):

Agarramentos e estrangulamentos devem ser aplicados com pressão (dentro dos limites de segurança) para invocarem uma resposta realística à ameaça.
• Golpes e chutes devem ser executados com foco e intenção. A idéia é que se você não se mover, será atingido. Isso traz os seguintes benefícios: você aprende como é ser atingido, e se fosse ficar com o nariz machucado ou o lábio cortado, isso será tratado e você poderá treinar mais. Ninguém vai parar um ataque na rua porque você está com o lábio cortado.
• Os instrutores devem ensinar como atacar, considerando a forma como os ataques podem ser feitos na rua.
Você também pode gritar durante um ataque, simulando um atacante que grita. Se isso acontecer na rua, você não vai “congelar”.
• A presença da integridade do combate desenvolve o fudoshin, ou a “mente que não se move”. Fudoshin é um dos princípios do budo e se refere a um estado mental que é impenetrável e imóvel (grifo meu). Neste caso, “imóvel” requer algumas explicações, pois é usado no contexto filosófico japonês e assim tem um sentido mais elevado do que se esperaria ao associar ao significado da palavra em outra língua. Fudoshin não indica um estado mental inflexível, mas, sim, aponta para uma condição mental que não é facilmente transtornada por pensamentos internos ou por fatores externos. “Esta mente que permanece não agitada e calma é imperturbável, não apegada e livre... é a mente máxima do mestre, adquirida apenas através de rigoroso treinamento, e igualmente rigorosa investigação da mente e pelo forjar do espírito (seishin tanren, em japonês) através da confrontação e vitória sobre nossos próprios medos e fraquezas”

Fudoshin é diretamente relacionado com outro conceito Japonês conhecido como zanshin, ou "mente continua". O Zanshin se refere a um estado de constante e contínua atenção ou estado
de alerta. O Zanshin se aplica a sua atenção ao mundo à sua volta. Você percebe as pessoas à sua volta, como elas se movem, como ficam de pé, o que há em seus olhos, porque você precisa estar preparado para interagir com elas. Você está presente neste momento. Uma grande parte do reigi, ou "métodos de respeito" no budo, particularmente as reverências (de pé e na posição sentada) e outras formas de etiqueta foram criadas com o zanshin em mente. Em um contexto marcial, imobilidade e continuidade se referem a um estado de alerta mental em que a mente não está fixada em coisa alguma. Como a mente é receptiva e atenta, mesmo que não fixada conscientemente em alguma coisa em particular, não existem pontos fracos mentais ou suki ("brechas"). Os conceitos espirituais japoneses podem ser um “quebra-cabeças” e normalmente são conectados como parte de vários conceitos (grifo meu). Por isso, explicarei mais detalhadamente.

Se eu tenho tres objetos na minha frente e enfoco minha atenção em só um, minha concentração estará afastada dos outros dois. E assim, em relação aos outros dois objetos, eu criei um suki, ou uma ausência de foco. Se qualquer um destes objetos fosse um atacante, eu estaria completamente vulnerável. Mas se você disser, ok, tudo o que temos que fazer é focalizar todos eles, você estaria parcialmente certo. Mas, como com tudo o que é japonês, não é tão simples. O segredo escondido é que devemos focalizar todos eles sem focalizar nenhum deles. Às vezes isso é chamado de mushin, ou "não mente". Este conceito, que sustenta o do fudoshin, pode ser difícil de ser compreendido por ocidentais. A “não mente” se refere a um foco que é mais intuitivo que consciente. Isso significa confiar em seus instintos mais do que se empenhar em um processo consciente de pensamento. Os ocidentais podem chamar isso de “estar na área”. Os japoneses podem chamar isso de “estar no momento presente”(grifo meu).

No budo, criar este estado de confiança intuitiva e maturidade interior requer muitos anos de prática (keiko), em alguns casos a prática de exercícios de respiração meditativa (kokyu ho) e disciplina austera física/espiritual (shugyo). Todos estes elementos, que são parte do budo, lentamente afastam a mente do diálogo mental interno e das censuras (de análise e justificação) e começam a permitir a mente que confie em seus sinais intuitivos ou em sua natureza superior.
Em mushin, a mente deixa de ser facilmente perturbada ou reativa em excesso. Ela é fudo ("imóvel") e não são criados suki ("brechas") ou quebras do foco. Este estado é muito claro ao se observar um experiente budoka praticando um kata. Apesar de estar totalmente atento à forma, ele não opera a partir de um processo consciente de pensamento. O kata foi praticado milhares de vezes, e o praticante desenvolveu uma confiança natural em sua habilidade. De certa forma, não há nada para se pensar. Talvez seja um tanto como o slogan da Nike: "Just Do It" (“apenas faça”).
Em resumo, a mente, não estando presa a coisa nenhuma, é forte, concentrada e receptiva a todas as coisas (grifo meu). Certamente Fudoshin não existe somente para as artes marciais. Pelo contrário, esta confiança e calma intuitivas podem ser usadas antes e durante uma reunião importante, em uma entrevista, uma prova, ou em qualquer circunstância em se seja necessária calma e um foco intensificado. Com uma prática consistente e disciplinada, o fudoshin pode se tornar um estado mental natural, confortável e produtivo.

Referências:
Fabian, S., (2001). "Fudoshin and Its Continuing Relevance." Furyu the Budo Journal, numero 9,
Hawaii: Tengu Press.
Sobre o Autor: Brett Denison Sensei é sandan na divisão SMAA goshin-jutsu, com interesse
antigo pelos sistemas de jujutsu Japoneses. Seus interesses também incluem o estudo da língua
e da arte do Japão. Um estudante ávido de shodo, caligrafia japonesa, ele é membro do Kampo
Ryu, uma conhecida escola de shodo com base no Japão. Denison Sensei vive no Colorado, e
contribui com freqüência para a SMAA Newsletter


COMENTÁRIO:

Os textos que transcrevi nos servem para construirmos uma diretriz de treino, visando trabalhar nossas fraquezas e intensificar nossas virtudes para alcançarmos os objetivos individuais durante a prática do aikido. Neles, os autores, cada qual a seu modo, nos fazem refletir sobre a condição de equilíbrio que todos almejamos alcançar no dojo. Ou seja, devemos ser firmes o suficiente para tentar simular uma situação de agressão que se aproxime o máximo possível da realidade, sem comprometer a integridade física do nosso parceiro e sem atribuir ao mesmo o "ônus" de nossos fracassos pessoais, quando durante a execução das técnicas não atingimos esse ponto ideal de equilíbrio. Destaquei nos textos o que julguei mais importante para mim neste momento, cada pessoa, individualmente pode valorar outros aspectos do mesmo texto (por isso transcrevi os mesmos na íntegra). Como tudo na vida, o aikido nos traz a responsabilidade de agir com equilíbrio (centrados), e no dia-a-dia dos treinos nosso Sensei Vergetti constantemente nos alerta e orienta na busca desse "centro", ao seu modo, pede-nos mais firmeza quando estamos atacando ou realizando as técnicas de forma "excessivamente suave e coreográfica" e mais suavidade quando estamos fazendo uso de uma "força desproporcional". Muitas vezes não entendemos esse ensinamento, por isso, julguei oportuno publicar aqui esses textos que tratam desse assunto, para por fim concluir que o que temos que procurar no final das contas é o equilíbrio entre a firmeza e a suavidade. Alguns textos trazem alguns ensinamentos que podemos classificar como "avançados", com foco naqueles praticantes que já possuem ou estão próximos da faixa preta, portanto, na minha condição de faixa amarela, eles representariam uma visão de futuro, não adaptada a minha realidade atual. No entanto, acredito que os ensinamentos expostos nesses textos, resultado da prática e experiência de alunos mais avançados, estariam adequados a qualquer época ou faixa do praticante, pois o que está em jogo não é apenas o aspecto técnico, é também a postura ética, a sinceridade na execução (nague) e na recepção das técnicas (uke), o comprometimento, o auto-conhecimento, a auto-estima, o reconhecimento das nossas falhas e a perseverança.

Espero que com isso, possamos refletir um pouco mais sobre esta importante arte marcial, que nos instiga dia-a-dia a buscar a superação de nossas limitações físicas e psicológicas, visando a criação de uma atmosfera unificadora e harmoniosa conectada com todas as formas de vida.

Abraços para todos

Um comentário:

  1. Achei que voce foi muito feliz nas suas colocações, e vejo que a cada dia nosso sensei tem razao, voce e uma POTENCIA COMPANHEIRO.

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